Meio ambiente

Eredità recicla 1,3 mil litros de óleo de cozinha usado

Volume de matéria-prima transformado pela pequena empresa de Canoas já evitou a contaminação de até 32,5 milhões de litros de água

Por Sérgio Ruck Bueno, 25/07/2021

Natália (esq.) com a mãe, Delair: "Nossos pilares são simplicidade, sustentabilidade e fechamento do ciclo de uso do óleo" - Foto: Divulgação

Inspiradas na importância da reciclagem do óleo de cozinha como forma de evitar danos ao meio ambiente, as empreendedoras Delair e Natália Moraes, mãe e filha moradoras de Canoas, criaram no fim de 2019 a Saboaria Eredità. Desde então elas transformaram 1,3 mil litros do produto utilizado por consumidores domésticos e restaurantes no equivalente a 20 mil barras de sabão, vendidas nos pontos de coleta da matéria-prima e no site da empresa na internet.

O nome da saboaria, que em italiano significa herança, remete à tradição da família. Entre as décadas de 1940 e 1960 a bisavó de Natália fabricava sabão para uso próprio a partir de gordura animal no interior de Flores da Cunha. Mais tarde, há cinco anos, a avó começou a fazer o produto com óleo vegetal já em Canoas, a mãe se interessou pelo assunto e em 2019, junto com Natália, fez um curso de empreendedorismo para colocar o projeto na rua.

O volume recolhido até agora pode parecer modesto, mas considerando o potencial poluidor do óleo vegetal, a Eredità já evitou a contaminação de até 32,5 milhões de litros de água. Não é pouca coisa. Equivale, por exemplo, a mais de 15 piscinas olímpicas cheias.

“Nossos pilares são simplicidade, sustentabilidade e fechamento do ciclo de uso do óleo”, explica Natália, que cursa doutorado em engenharia da produção com foco em reciclagem na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). “Produzimos sabões em barra, em pasta, ralados e com fragrâncias. A aceitação foi muito boa, tanto pela proposta do negócio quanto pela qualidade do trabalho”, diz a empreendedora.

A Eredità tem quatro pontos de coleta de óleo e venda dos sabões. Dois ficam em Canoas, na banca própria no Brique da Inconfidência realizado aos sábados pela manhã e no mercado vegano Shanti. Os outros dois estão em Porto Alegre, na loja da cooperativa agroecológica GiraSol e no armazém ecológico Banana Verde. Cada um deles arrecada, em média, 50 litros por mês.

A empresa mantém ainda parcerias com restaurantes e confeitarias que fornecem cerca de 50 litros mensais de matéria-prima cada um e depois adquirem os produtos finais. Agora, em junho, lançou uma loja na internet para ampliar os contatos e as vendas diretas aos consumidores no endereço https://www.saboariaeredita.com.br/.

O trabalho é pesado. Mãe e filha usam o próprio carro para recolher o óleo em bombonas de até 50 quilos e, antes de ser reciclado, o material precisa passar por processos de filtragem para eliminar impurezas como farinhas e açúcares. Os resíduos são enviados para a Arco Resíduos, de Porto Alegre, que depois os encaminha para compostagem.

Mas o esforço vale a pena. Segundo Natália, se o óleo é lançado na pia ou no vaso sanitário, pode entupir os encanamentos, sobrecarrega as estações de tratamento de esgotos ou contamina diretamente os mananciais. As estimativas são de que um litro do produto pode poluir de 20 mil a 25 mil litros de água. E, se descartado com o lixo orgânico, acaba prejudicando o solo. “Por isso nossos pontos de coleta oferecem alternativas acessíveis de descarte correto”, diz a empreendedora.