Tecnologia e gestão
Urban Flowers une veganismo e "slow fashion"
Fabricante de calçados em Campo Bom prioriza práticas sustentáveis, fornecedores locais, estrutura horizontal de trabalho e identificação com consumidores
Fundada há pouco menos de sete anos em Campo Bom, na região metropolitana de Porto Alegre, a Urban Flowers não está atrás do crescimento rápido e a qualquer custo. Pelo contrário, os princípios que movem a fabricante de calçados e acessórios são o veganismo, a sustentabilidade, a diversidade e o chamado slow fashion, um conceito que valoriza atributos como a produção local, as boas relações com fornecedores e consumidores, o consumo consciente e a extensão do ciclo de vida dos produtos de moda.
A empresa foi criada pela empreendedora Cecília Weiler, que no ano seguinte passou a contar com a parceria do companheiro Patrick Lenz. Eles transitaram do vegetarianismo (que prevê uma dieta sem carne) para o veganismo (que veda o uso, na alimentação ou em processos industriais, de qualquer produto de origem animal ou testado em animais) ao pesquisar tendências de mercado e adotaram a filosofia como pilar fundamental do negócio.
Tudo começa pelos componentes empregados na produção. Além de repelir quaisquer matérias-primas ou insumos de origem animal, a empresa dá preferência a materiais recicláveis, preza pela separação e pela destinação corretas dos resíduos e só em 2020 reutilizou 7,7 mil metros quadrados de tecidos, 1,1 tonelada de borracha e 3,3 toneladas de papelão recicladas.
A Urban Flowers tem uma equipe enxuta, com 12 pessoas no total, e diversa, sendo seis mulheres e seis homens. Eles trabalham em um organograma horizontal, com mais autonomia, sem funções gerenciais e conectados em um grupo de WhatsApp. Os planos são definidos e acompanhados em reuniões mensais e, quando necessário, em encontros extraordinários.
A relação transparente com os fornecedores de componentes também é parte importante da estratégia. São sete parceiros, todos da região próxima à fábrica em Campo Bom, monitorados de perto por meio de visitas periódicas. “Observamos desde as matérias-primas que eles utilizam até o respeito aos colaboradores”, diz Lenz. “Não é só marketing, queremos que as coisas aconteçam da forma como a gente pensa”, completa.
Na outra ponta, os canais de relacionamento e identificação com os consumidores incluem o e-commerce e as redes sociais onde a empresa apresenta seus produtos e defende o ativismo vegano. Os calçados e acessórios são vendidos ainda na Terra Maya Slow Shoes, em Florianópolis, há um ano, e mais recentemente em duas pequenas lojas nos Emirados Árabes Unidos, depois que a marca participou da última edição da Expo Dubai, explica Lenz.
Segundo o empreendedor, a confiança dos clientes foi decisiva nos meses em que a fábrica parou por conta da pandemia da Covid-19 no ano passado. “Criamos vales que as pessoas adquiriam para receber os produtos depois”, lembra. Agora, após a queda de 15% em 2020, a produção voltou aos 1 mil pares mensais em novembro. O volume equivale a 100% da capacidade instalada, mas qualquer projeto de ampliação só será levado adiante se a demanda permanecer nesse patamar por pelo menos mais um trimestre.